
Tarefas domésticas, cuidar dos filhos, livros para ler ou o jornal essencial para a atualização diária, o corre-corre de norte a sul pelas ruas da cidade para se chegar ao fadado destino: o pão de cada dia, o trabalho. Esta é o roteirto que poderíamos apropriá-lo a uma pessoa dita normal. Sim, essa é vida daquele indivíduo classificado como comum, o exemplo de ser rotulado como mortal e dentro dos padrões que esperamos para se ter o mínimo de sobrevivência.
A Humanidade, muitas vezes, galga para um destino incerto, paradoxial e como diz a frase: A vida não é complicada, o homem que a complica. Quando se vê uma criança, claro antes desta ter um mínimo do discernimento do mundo, o que se mostra é uma figura desprovida de qualquer uma destas "tarefas" que atribuímos com o passar do tempo. Meu pai diz que elas são como um HD vazio de um computador, pronto para receberem dados e agir. Interessante, senão irônica esta comparação. Por que temos de deixar nossa pura ignorância infantil e aceitar passivamente responsabilidades, scripts formulados como condição de se estar aqui e em sociedade?
Simone de Beauvoir, escritora fracesa, em sua obra "Todos os homens são mortais", imprime no personagem Raymundo Fosca, sujeito que tem a chance e torna-se imortal, a angústia de parecer que se tem tudo, mas que na verdade, não se tem nem a consciência de si mesmo. Fosca vive momentos marcantes para a Humanidade e conhece muitos homens importantes durante seus vários séculos de vida e a conclusão que chega ao perceber a sua impotência de ser um imortal, que não o diferenciava dos outros, é a de que vivemos sem ter um sentido original em nossas trajetórias pelo mundo, como se ao nascermos recebecemos um livro já escrito e não páginas em branco para que possamos escrevê-las.
Talvez essa seja a explicação para se encontrar tantos indivíduos acomodados, moribundos, reclamando de um dos chinelos virado ao contrário no pé da cama e principalmente de sua conta bancária. O sujeito lá, com sua caneca de café forte para espantar o sono, no trabalho mecânico diário ou encostado em um sofá vendo televisão e comendo seu fast-food pingando em gordura. Ele não pode olhar para si mesmo, nem um só momento, é proibido. Não pode porque no âmago deste ser informatizado, com o emprego mais ou menos, dado à alguns luxos pelo aumento de seu "estresse salarial", o seu íntimo desconhecido o fará verter uma lágrima de emoção dos olhos, que se ele a percebesse, ahh Meu Deus! seria a sua salvação.